A polpa do açaí é ingrediente obrigatório na mesa do paraense. É o feijão com arroz de Belém. Todo dia, a partir das 11 horas, as boieiras do Ver-o-Peso já começam a liberar os primeiros pratos com peixe do dia frito (pescada, dourada), polpa de açaí e farinha grossa de mandioca. Procurei a Dona Conceição para conhecer a mistura. Cada item vem servido separadamente. Diante das cumbucas fiquei em dúvida sobre como comer. Ao meu lado, uma moça me ensinou o jeito dela: “Eu junto um pouco de farinha no açaí, mexo; depois como um pedaço de peixe e dou uma colherada no açaí”. Mas cada um faz do seu jeito, comendo com colher, garfo, sorvendo a polpa separadamente ou misturado, e até acrescentando um pouco de açúcar ao açaí.
O caldo da fruta é extraído ali mesmo, poucos minutos antes do serviço. O caldo recém-espremido é roxo escuro. Depois, com a oxidação, vai ficando amarronzado. Na barraca, uma pessoa fica responsável apenas por esta função. A máquina de retirar a polpa fica ligada o tempo todo. Só assim para garantir que as bacias de alumínio de açaí deem conta da demanda. O açaí usado nas barracas é comprado a poucos metros dali, na feira do açaí, onde são comercializadas as frutinhas que chegam de barco de toda a região amazônica.
Mas a polpa grossa do açaí maduro, também chamada de vinho do açaí, se transforma em mil e outras receitas nas mãos belenenses: sorvetes, bolos, licor, pudim e mingau. O sabor é muito intenso, e bem mais rico que o das polpas vendidas em outras partes do país. Nem salgado, nem doce, me lembrou o gosto do abacate. O congelamento é um grande inimigo desse sabor forte que só se tem da fruta triturada na hora.
O açaí é reconhecido por sua função antioxidante e alto valor energético – o que ajuda o povo a viver debaixo do calorão que faz nestas terras, ainda mais agora que é “verão” no Pará. Por conter ferro, fósforo e cálcio, é alimento indicado para crianças em fase de crescimento. Do açaizeiro também se extrai um palmito bem gostoso, mas pouco consumido pelo povão. No meio rural, faz-se chá da raiz da palmeira para combater infecções intestinais.
A fruta ganhou o mundo e é cultura que sustenta muitas famílias no Pará, Amazonas, Rondônia, Acre e Amapá. Antes o açaizeiro era alvo apenas de extrativismo para retirada das frutas e do palmito; hoje seu manejo é controlado e a plantação de pés da palmeira também tem se expandido. Vida longa ao açaí!
Gostaria de saber onde posso comprar uma máquina de extrair a polpa do açaí, para artesanal e consumo familiar.