Depois que você conhece a taioba, parece que a vê em todo lugar. Na estrada, descendo para o litoral de São Paulo, é possível perceber os tufos de folhas verde escuras no meio da mata, fincados ao lado das bananeiras e abaixo das árvores mais altas. Se você reparar ainda mais, a verá em alguns canteiros e jardins dos parques da cidade, como plantas ornamentais. Conhecida também como orelha de elefante, é planta típica da Mata Atlântica brasileira, e sendo assim, aparece em parte dos estados do sudeste subindo até a Bahia.
Curioso saber que a taioba (Xanthosoma sagittifolium) já é conhecida de muito tempo, sendo descrita nos primeiros relatos de cronistas estrangeiros que vieram ao país para relatar à Europa o que existia na fauna e flora do Novo Mundo. “É espécie de couve, que tem folhas largas, semelhante às do nenúfar [plantas aquáticas] das nossas lagoas”, descreveu o francês Jean de Léry, da década de 1550. Já o português Gabriel Soares de Souza, disse assim sobre ela: “As folhas destes mangarás [raízes da taioba] nascem em muitas, como os espinafres, e da mesma cor e feição, mas muito maiores; e assim moles como a dos espinafres, as quais se chama taiobas, também servem cozidas com o peixe.”
Mas se a taioba já era tão presente em 1500, por que desapareceu do prato de quem mora da região sudeste? Uma possível explicação: medo de envenenamento. Assim como a mandioca que tem uma versão brava, a Colocasia antiquorum é a variedade perigosa da taioba. É rica em oxalato de cálcio que, em humanos, pode causar sufocamento (!). Por isso, se uma taioba de talos roxos cair em suas mãos, melhor não arriscar. A que pode ser consumida é a de caule verde claro, que tem pouca concentração da substância tóxica, e que, após o cozimento, é eliminada completamente.
O chef caiçara Eudes Assis é um defensor da taioba na cozinha. Cresceu comendo as folhas e raízes da planta na praia de Boiçucanga, de São Sebastião (SP), onde vive atualmente. É dele a receita de bolinho que está aí no pé do texto. Testei e é supimpa! As folhas fatiadas e refogadas lembram o gosto do espinafre e da couve mesmo, só que o sabor é mais suave. Comprei o meu maço na feira orgânica do Parque da Água Branca, em São Paulo. Não achei à venda as raízes que, parecidas com o inhame, podem ser misturadas ao picadinhos de carne, ou em sopas e cozidos. Já o talo macio pode virar purê delicado.
De cultivo fácil – adora tempo úmido e calorento –, a taioba mansa poderia estar nas prateleiras do supermercados. É super nutritiva em ferro. Mas, assim, como ora-pro-nobis, ainda fica muito restrita às hortas domésticas. Uma pena.
BOLINHOS DE TAIOBA
20 unidades
Ingredientes:
400 g de taioba fatiada (assim como se faz com a couve)
200 g de farinha de trigo
200 g de purê de batata
1 colher (chá) de fermento em pó
50 g de cebola picada
30 g de manteiga
Farinha de mandioca fina para empanar
Sal e pimenta do reino a gosto
Modo de preparo:
Refogue a cebola na manteiga. Depois, adicione a taioba e o purê de batata. Acrescente a farinha de trigo e o fermento, e mexa até desgrudar do fundo da panela. Tempere com sal e pimenta do reino a gosto. Deixe esfriar. Depois faça os bolinhos com a ajuda de duas colheres e empane na farinha de mandioca fina (não precisa passar no ovo!). Frite em óleo bem quente.
Referência:
HUE, S. M.. Delícias do descobrimento: a gastronomia brasileira no século XVI. Colaboração: SANTOS, Ângelo Augusto dos; MENEGAZ, Ronaldo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.
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Adorei o texto sobre taioba! Fez parte da minha infância na Baixada Fluminense, RJ. Aprendi a gostar com minha avó e minha mãe. Faz muitos anos que não como. Espero encontrar aqui em São Paulo.
Olá, Wagner!
Como comentei acima, eu encontro taioba na feira orgânica do Parque da Água Branca. 😉
abs.,
Rachel
Adorei. No começo do texto fiquei um pouco preocupado com os tipos de taioba, mas, na medida que fui avançando a leitura percebi que você o autor orientou sobre a taioba venenosa. Vale salientar que nos jardins também aparecem umas falsas taiobas que é o famoso tinhorão, esse é venenoso. Comi muita taioba folhas raízes, pois, nasci em MG e filho de capixaba já viu né. Hoje moro em Rondônia, mas aqui, por ser uma região colonizada por sulistas embora ela produz com muita facilidade não é muita consumida infelizmente.