Dezembro é o mês em que coletores do Amazonas, Pará e Acre começam a juntar os ouriços de castanha-do-brasil (Bertholletia excelsa) que caem espontaneamente das castanheiras de mais de 50 metros de altura. Para chegar nesta fase de colheita destes pequenos cachepôs recheado com 15 a 25 amêndoas maduras, é preciso tempo e respeito às fases de desenvolvimento que a natureza impõe.
As castanheiras, plantadas ou nativas da mata amazônica, só começam a dar frutos a partir dos 15 anos de idade. As flores se formam em novembro e só vão resultar em frutos 14 meses depois. Então as castanhas recém caídas neste mês de 2013 começaram seu processo de formação em novembro de 2012 (!). Outra questão que mostra a força da floresta é que fruto maduro é que aquele que cai no pé sozinho (assim como o baru, lembra?). Sendo assim, a castanheira – nova ou centenária – exige que sua sazonalidade seja respeitada. Em troca, oferece de cinco a seis meses de colheita.
Recolhidos os ouriços, esta caixa natural é rompida e as amêndoas são secas ao sol ou então por secagem mecanizada. A umidade excessiva pode apodrecer os frutos. Depois pode ser vendida nos mercados locais ainda fresca. Comi esta versão pela primeira vez em Belém, no mercado Ver-o-Peso, neste ano. Há centenas de barracas em que mulheres martelam as amêndoas o dia inteiro. É alimento vendido até no farol. Ao morder a versão fresca tive a sensação de que nunca tinha comido castanha antes. Pude ver e sentir o leite de castanha mais puro que se pode comer. Por ser fresca, ela é muito perecível. Depois que a casca é rompida, ela dura até cinco dias na geladeira dentro de um tigela com água. Sorvete de castanha do norte entra em outro patamar de sabor justamente porque é feito da amêndoa fresca. Na minha passagem por lá, toda tarde era sagrado comer um.
Mas a versão da amêndoa mais comumente encontrada nos mercados distantes do norte e também exportada com o selo “Brazil nut”, conhecida no mundo todo, é a desidratada ou semidesidratada que dura muitos meses estocada. A diferença principal ao morder esta amêndoa é a ausência do leite. As castanhas passam por processo de cozimento no vapor, que amolece as cascas e facilita sua retirada; depois são aquecidas para ressecarem. Esta última etapa é bem importante já que uma secagem muito elevada pode deixar a amêndoa rançosa. Do peso de uma amêndoa (entre 5 a 20g), metade é da casca e a outra da polpa.
O Ministério da Agricultura regulamenta as categorias de amêndoas de acordo com seu tamanho, integridade (inteira ou partidas) e desidratação. Esta mesma legislação, datada de 1976, foi a que alterou o nome mais popular de castanha-do-pará para castanha-do-brasil. Embora o Pará seja um grande produtor, historicamente o Acre sempre liderou as exportações. Atualmente, o Amazonas é o maior neste mercado. Fora daqui, o Bolívia bate todas vendas com pacotes em que se lê no rótulo “nuez del Brasil”.
Em seu livro Oleaginosas da Amazônia, Celestino Pesce decreta: três sementes equivalem a uma refeição, por conta de suas propriedades altamente nutritivas. A castanha-do-brasil também é chamada de “carne vegetal”. Talvez este seja o segredo da longevidade do Seo Landi, morador da Ilha do Combu, localizada a 15 minutos de barco de Belém. Conheci sua propriedade cheia de árvores nativas, entre elas a castanheira centenária da foto abaixo. Do alto dos seus mais de 80 anos, Landi partiu um ouriço e depois, as amêndoas para os visitantes. Nunca pensei que algum dia fosse comer uma amêndoa do lado de uma castanheira centenária. Recomendo.
Referência:
PESCE, Celestino. Oleaginosas da Amazônia. 2ª edição. Belém: Museu Paraense Emilio Goeldi, Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural, 2009.
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É CASTANHA DO PARÁ e não castanha do Brasil,você não ver castanha do Pará em São Paulo, ou na Bahia, ou no Paraná, Castanha do Pará é “nativa da Amazônia” mais especificamente no Pará, já que se concentra lá,fora de lá a pesar de ter a tal não se tem tanta ocorrência,sendo assim não sendo comum nos outros estados que faz parte da região Amazônica, e também ninguém irá planta uma castanheira para esperar 100 anos até que dê frutos. Por tanto não pode se chamar castanha do Brasil, por que não é um fruto pertencente de um país mas sim de uma região um estado.
Olá, Rafaela! Sim, popularmente é castanha-do-pará, mas como o Pará hoje não é o maior produtor (Acre lidera) achei interessante colocar o nome “oficial”. Mas explico isso tudo no texto.