Esqueça os pés baixinhos de feijão que batem na altura da canela, o guandu (Cajanus cajan) – ou andu ou gandu – é um arbusto que pode chegar até a 1,5 metro, dependendo da variedade. É planta rústica e guerreira, que cresce em solos variados, e resiste bem a climas secos. Daí sua presença frequente no Nordeste. Por lá é cultura de pequeno produtor do semiárido, usada na plantação combinada com outras plantas, na alimentação de galinhas e gado, além de ser alternativa de renda quando vendida nos mercados locais.
Debulhado das vagens rajadas, ainda frescas, o guandu tem grãos bem arredondados e verdinhos. Nesta fase é bastante parecido com ervilhas. Depois de seco, fica assim como na foto aí em cima, com vários tons de marrom e nada uniformes.
Conheci o guandu quando fui para o sul da Bahia. Ele foi servido em almoço na Fazenda Lajedo do Ouro, em Ibirataia. Era acompanhamento para perna de cabrito assada, preparada pela Dona Maria Ângela. Na ocasião esqueci de perguntar como foi preparado. Mas numa passada pelo blog Come-se, da Neide Rigo, ela ensina que ao cozinhá-lo é preciso descartar a primeira água da fervura, pra evitar o amargor do grão – seja ele fresco ou seco.
Rico em ferro e cálcio, não é feijão de muito caldo por isso costuma ser comido como salada reforçada, com linguiça, cebolas, pimenta e coentro, ou então como farofa ou até como omelete. Consegui achar um quilo dele seco numa feira da Aclimação, bairro de São Paulo. Quando olhei para o saquinho, levei um susto. Encontrar guandu por aqui, no Sudeste, é complicado. A versão verde então… quase impossível.
Há controvérsias sobre sua origem, se Ásia ou África. Mas fato é que, no Brasil, chegou provavelmente pelos navios negreiros, e adaptou-se bem ao clima tropical. Já a Índia hoje é o maior produtor mundial de guandu, onde é usado para a produção de dhal, preparação caudalosa e apimentada que também é feita com ervilhas ou grão de bico.
Se os estudos históricos são um tanto obscuros, os agrônomos trazem informações mais concretas sobre suas propriedades. O guandu é um ótimo “adubo verde” porque ajuda a fixar nitrogênio no solo e produz massa rica em elementos minerais. Também é chamado de “pé de arado” porque suas raízes profundas rompem camadas mais duras da terra, ajudando a drená-la. Por estas características é usado nas plantações em consórcio, ou seja, juntamente com outras culturas, e considerado ótima alternativa natural para recuperação de terrenos degradados, como os usados por muito tempo como pastagens.
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