Pouca gente sabe mas o feijão carioca foi um divisor de águas para a agricultura paulista, para a gastronomia regional e também para as pesquisas agronômicas. Foi por volta de 1964 que um agricultor de Ibirarema (SP), chamado Waldimir Coronado Antunes, percebeu que um pé de feijão de sua propriedade havia se desenvolvido de forma diferente dos demais da variedade chumbinho. A planta mostrou-se mais resistente, produtiva e com uma característica peculiar: grãos cor creme com rajados marrons; isso numa época em que os feijões mais comuns e consumidos eram os de cor lisa marrom, como o roxinho, o mulatinho, o jalo, entre outros.
Embora a história mais popular seja a de que o nome surgiu inspirado em uma raça de suínos que também possuía as listras pelo corpo, Antunes disse, em edição da revista Gosto de agosto de 2012, que o nome de batismo teve outra origem. O agricultor costumava empregar alguns trabalhadores vindos de Nova Friburgo (RJ) que, descendentes de alemães, tinham pele alva e muitas sardas. Daí a inspiração.
Depois que identificou o carioca, Antunes despachou alguns grãos para o Instituto Agronômico de Campinas (IAC). Lá, foram realizadas diversas pesquisas que atestaram a resistência e a produtividade do feijão. Esses dados embasaram a política de incentivo pela cultura, direcionada aos agricultores, a partir de 1969, ano do lançamento oficial do grão.
Com melhoramento científico, o carioca tornou-se um superalimento: era resistente às principais doenças que acometiam os feijoeiros na época, como a antracnose (tipo de infecção por fungo), tinha produção superior a de outras variedades num mesmo hectare, rendia bons resultados nos solos menos férteis do Sudoeste Paulista, além de ter uma composição biológica que se adaptava à falta de água da roça. O carioca encontrado à venda hoje no mercado não é exatamente o primeiro localizado lá na propriedade do Antunes, mas de cultivares derivados daquele primeiro grão que foram sendo aprimorados geneticamente ao longo das últimas décadas
Na panela também promoveu uma revolução: o cozimento era bem mais rápido que as demais variedades existentes. Minha mãe lembra-se quando, na década de 1960, minha avó Anita precisava colocar o feijão mulatinho de molho na água, de um dia para o outro, para que cozinhasse mais rapidamente no dia seguinte. Com o carioca não carecia disso. As mulheres amavam o novo feijão – assim como a panela de pressão, que se popularizou por aqui na década de 1960. Ambos eram aliados no preparo de uma refeição rápida, uma benção para quem começava a entrar no mercado de trabalho e tinha menos tempo para os afazeres domésticos.
Apoiado por cientistas, produtores e consumidores, o feijão carioca virou um caso de sucesso. Hoje, 80% do feijão cultivado no país é carioca (plantio que dá um “chega pra lá” no cultivo de outras variedades de feijão, isso lá é verdade…). O tipo também é plantado em outros países da América do Sul e da África. Quarenta anos depois, o carioca reina absoluto em muitos estados, sendo o mais consumido no país.
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Muito bom saber a origem do feijão carioca. Só me lembrava do aparecimento dele…Desbancou por completo os demais. Texto ótimo, como sempre.