Das frutinhas nativas brasileiras, a pitanga (Eugenia uniflora) é uma das mais cativantes. Seja pelo seu formato cheio de gomos ou pelo avermelhado que varia do tom mais claro ao escuro (podendo até beirar o roxo), é daquelas pequenas criaturas que arrancam um sorriso até da pessoa mais ranzinza. Quando me deparo com um pé carregado agora em outubro, começo de safra (que vai até janeiro), imediatamente associo à vida mais simples. Uma mistura de azedo e doce que faz marmanjo da cidade grande dedicar alguns minutos da vida corrida para olhar para o alto e catar as frutinhas nascidas nos canteiros em São Paulo.
A pitanga tem muitas facetas. É ao mesmo tempo resistente e delicada. Sua capacidade de se adaptar a climas e solos variados a transforma em árvore cultivada de nordeste ao sul do país. A produção mais estruturada e comercial concentra-se em Pernambuco e na Bahia.
Fora estes estados, cresce solta por aí, sendo mais consumida direto do pé. E a explicação é que a fruta, ao contrário da árvore, é super frágil. Pitanga madura não resiste ao transporte de longas distâncias, daí o comercio mais comum da fruta in natura ficar restrito aos centros próximos às regiões de plantio. Tá explicado então porque é mais encontrada nos mercados na versão de polpa congelada.
A pitanga também é misteriosa. As variedades não são perfeitamente definidas e conhecidas aqui no país. É possível encontrar frutos que variam bastante de diâmetro – de 1,5 a 5 cm –, com ou sem gomos, ou então com uma ou até seis sementes por fruta.
O fascínio pela pitanga também é antigo. Quando veio corrida para o Brasil, a família real portuguesa teve contato com vários “novos” sabores, entre eles o da pitanga, tida como a “cereja brasileira”. D. Pedro II era fissurado na fruta. Parte dos blocos de gelo extraídos de rios congelados europeus e que viajavam por meses de navio até chegar aqui era usada para fazer as primeiras receitas inventadas de sorvete de pitanga.
A Rita de Medeiros, dona da sorveteria Sorbê, localizada em Brasília, tem uma receita deliciosa descrita no seu livro Sorbets e sorvetes: uma festa de frutas brasileiras, que reproduzo aí abaixo. Vale a pena guardar para quando você tiver com um punhado das frutas nas mãos.
SORBET DE PITANGA
Ingredientes:
1 quilo de pitangas maduras
400 g de açúcar refinado
½ litro de água
Modo de preparo:
Passe as pitangas por um processador para retirar os caroços. Embora dê um pouco de trabalho, é muito melhor retirar as sementes uma a uma, na mão. Assim o aproveitamento da fruta é maior.
Misture a água com o açúcar e leve ao fogo até que derreta totalmente. Deixe esfriar. Em seguida adicione as pitangas, mexendo bem por um minuto.
Leve ao freezer por 40 minutos. Retire. Transfira para uma tigela e use a batedeira por 10 minutos. Leve ao freezer novamente e repita a operação de congelar e bater a mistura por pelo menos três vezes, ou até quando achar que a massa do sorbet ganhou ar suficiente. Deixe então no refrigerador até a hora de servir.
Referência:
MEDEIROS, Rita de. Sorbets e sorvetes: uma festa de frutas brasileiras. São Paulo: Terceiro Nome, 2013.
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