Ir para Minas Gerais e não comer ora-pro-nobis é um desrespeito com a tradição de qualquer cidade de lá, principalmente nas da zona rural. O que para os “estrangeiros” é mato, para o mineiro é comida. E das boas! Uma planta muito nutritiva, rica em ferro, zinco, cálcio e que tem altos teores proteicos. Não à toa um de seus nomes populares é carne-de-pobre. Você também vai encontrá-la por lá atendendo por carne-de-negro, groselha-de-barbados, guaiapá, trepadeira-limão, mata-velha, entre outros tantos.
Esta planta da família dos cactos (Pereskia aculeata), originária das Américas, ganhou lenda curiosa para o seu nome católico. Conta-se que na época do auge do ciclo do ouro, no fim do século XVII, era comum plantar touceiras ao redor das igrejas da Vila de São José. Faziam as vezes de cercas vivas por serem arbustos frondosos e com muito espinhos. Acontece que a planta caiu no gosto culinário popular. Para proteger suas mudas, os padres começaram a fazer vigília, reprimindo qualquer “ataque” de algum cidadão desavisado. O único momento em que baixavam a guarda era no período das missas. Enquanto entoavam a ladainha litúrgica em latim com a repetida expressão “ora-pro-nobis!”, que significa rogai por nós, o povo aproveitava para fazer a colheita! Daí o nome pegou.
As folhas verde-escuras, compridas e lisas de ora-pro-nobis vão bem refogadas junto com carne de porco ou frango, no estilo ensopado. No cozimento, elas soltam baba, assim como o quiabo. Por isso que muita cozinheira mineira gosta de flambar com cachaça a carne na panela e, imediatamente, jogar as folhas do ora-pro-nobis para que se crie um calor a mais que sele as folhas, isolando a baba, ensinam. As folhas também fortificam farinhas para fazer pães e tortas, ou então, quando secas, serem usadas moídas no lugar de temperos verdes, como o orégano ou tomilho.
Classificada entre o grupo das PANC (Plantas Alimentícias Não Convencionais) – falarei muito delas por aqui –, tem ganhado mil e uma possibilidades de preparo nas mãos de chefs pelo Brasil. Seus frutos também podem ser consumidos in natura ou então virar geleias.
A minha muda eu consegui com a Letícia, do blog Cozinha da Matilde. Ela ainda está bem mirrada, precisando de mais espaço e sol. Quase não lembra os arbustos grandes e espinheiros tão característicos dela. Tá na hora de me mudar para uma casa com quintal…
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Conheci hoje seu site através de um grupo que gosto muito: hortelões urbanos e estou curtindo muito, gosto de cozinha, suas curiosidades, e a nossa cultura precisa mesmo ser divulgada, afinal comida e história, cultura e uma maneira de demonstrar carinho, amor, respeito
Obrigada pelo site, parabéns!
Bacana, Carmen! Obrigada pelo elogio. Espero que as informações daqui te interessem sempre mais e mais.
Um abraço, Rachel
Conheci hoje seu belo trabalho.
Mantendo nossa cultura atraves da alimentação, podemos
dar ginga a nossa brasilidade.