Na região amazônica, a priprioca (Cyperus articulatus L.) é conhecida como capim alto de flores pequenas, que cresce em áreas alagadas. Seu tesouro está escondido debaixo da terra, onde brotam batatinhas de 1 centímetro que, quando partidas, exalam perfume marcante com notas amadeiradas e picantes. Quando o tubérculo é reduzido a pó e misturado à água, vira loção usada “para perfumar os cabelos das mulheres amazônicas do interior, após os banhos no igarapés e rios da região”, registra Roberto Martins Rodrigues, no livro A flora da Amazônia.
Na feira do Ver-o-Peso, em Belém, é possível encontrar três espécies da planta: a priprioca já mencionada, a priprioquinha (Cyperus prolixus K.) e o pripriocão (Cyperus rotundus L.). Todas vendidas basicamente para fazer banhos de cheiro, ou para se transformar em remédio natural, como infusões que curam dor de dente, enxaqueca, gripe, dores estomacais e constipação intestinal. O álcool e óleo são empregados há mais de 30 anos pela indústria cosmética local na produção de essências.
Sempre foi sinônimo de perfume até que cozinheiros curiosos começaram a testar suas propriedades nas panelas. Um movimento que, para mim, se parece muito com o que aconteceu por aqui, tempos atrás, com a lavanda, usada na confecção de sorvetes e pudins. Mas voltemos à priprioca: o primeiro a testá-la foi Paulo Martins (1946-2010), fundador do restaurante Lá em Casa e criador do Festival Ver-o-Peso da Cozinha Paraense. Na edição de 2006 do evento, ele inventou a sobremesa Odores do Pará, que reunia mix de docinhos feitos à base de sementes e ervas até então usadas apenas para banhos de cheiros: o cumaru (em breve farei texto sobre esta semente!), o patchouli e a priprioca. Ali, carolinas receberam calda feita à base da última. Depois foi a vez de Alex Atala fazer testes mil em pratos salgados e em sobremesas – algumas recebendo borrifos de óleo da priprioca antes de chegarem às mesas dos clientes. Os irmãos Castanho, do restaurante Remanso do Bosque (PA), também já abusaram da raiz em diversas composições.
Depois de despelar a casca marrom cheia de fiapos, chega-se a um interior branco denso. Esta bolinha, então, pode ser ralada e usada para aromatizar leites, caldas, caramelos e, assim, gerar bolos, pudins aromatizados com este cheio tão particular da Amazônia. Também pode ser salpicada em combinações salgadas como em carnes em geral, fígado e salame, como indica Atala. Com as raízes que comprei em Belém, a meta não será tão ousada assim. Vou testar em um caramelo. Depois eu conto como ficou.
Apesar da crescente demanda gourmet pela batatinha, a produção ainda é muito concentrada em pequenas propriedades rurais de agricultores familiares, presentes principalmente nos municípios de Acará, Santo Antônio do Tauá e na Ilha de Cotijiba, todos no Pará.
Até chegar ao Ver-o-Peso, a priprioca varia em disponibilidade, custo, oferta e qualidade. Mas com a nova fama nacional e um embaixador do calibre do Atala, quem sabe a produção não ganha corpo? Produtores e gourmets, uni-vos!
Referências:
POTIGUARA, R. C. V; ZOGHBI, M. G. B (Orgs.). Priprioca, um recurso aromático do Pará. Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi/ Universidade do Estado do Pará, 2008.
RODRIGUES, R. M. A flora da Amazônia. Belém: Cultural CEJUP, 1989.
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onde vende a raiz de priproca ou essencia ???
Olá, Eduardo! Sei apenas que tem nas barracas do Ver-o-peso, lá em Belém.