A fruta-pão tem dois momentos na cozinha: um salgado e outro doce. Quando está verde, firme, mas já crescida e prestes a começar a madurar, é descascada, cortada em fatias grossas e cozida em água com sal. O resultado é um naco que parece, em visual e sabor, com uma macaxeira cozida. Vira parte do café da manhã com um pouco de manteiga passada por cima, como se faz com qualquer fatia de pão – justificando seu nome de batismo. No Nordeste, o povo gosta também de incrementar o seu pedaço com uma colher de melaço. Mas há quem também já tenha usado a fruta-pão cozida em nhoques, purê e outros preparados em que substitui a mandioca ou a batata com louvor.
Mas se a fruta-pão madurou demais e já cede quando é apertada, daí a polpa que naturalmente fica doce, só pode virar…doce! Bolo, pão e até sorvete. Ganhei uma fruta-pão na Bahia que depois de horas no voo de volta para SP, envolta em saco plástico dentro da mala, ficou madura antes do tempo. Daí coloquei a polpa mais creme de leite na sorveteira, e virou um cremão adocicado, que lembrou doce de leite.
Existem duas variedades: uma sem sementes, com polpa carnuda que é mais consumida por aqui, e outra com sementes, que tem polpa meio sem graça, sem gosto, mas que não fica sem uso na cozinha: depois de cozidas, as sementes lembram muito o sabor da castanha portuguesa. O fruto pode variar de 1 a 3 kg e tem casca que lembra a da jaca. Sinônimo de sustância, rico em carboidratos, é alimento com características nutricionais que superam as do pão branco comum, chancelam os especialistas.
Em 1972, ano da primeira edição do livro Frutas comestíveis na Amazônia, Paulo Cavalcante fez defesa ranzinza, mas bem atual, sobre a fruta: “Em épocas passadas, essa fruteira era bastante cultivada nos sítios e pomares doméstico da região, estando hoje quase abandonada essa tradição, substituída por outros alimentos, modernos e sofisticados, quase sempre de valor alimentar inferior, muitas vezes fabricados à base de componentes artificiais, danosos à saúde.”
De fato, é hoje uma fruta com pouca ou nenhuma produção comercial no país, ficando restrita ao consumo doméstico quando crescida nos quintais, ou vendida em mercados regionais do Norte e Nordeste. Também pode se encontrada, ainda que raramente, como fruta seca e e farinha fina ou então granulada que lembra a aparência do sagu.
Não é nativa brasileira, mas já é plantada por aqui desde 1801, ano em que o então governador do Pará, Dom Francisco de Souza Coutinho, mandou buscar mudas da planta na Guiana Francesa. Além de cultivá-la em seu estado também repassou sementes para o Maranhão, onde também se adaptou muito bem ao clima quente e úmido – habitat parecido com o da sua terra natal, entre a Indonésia e a Malásia.
Referência:
CAVALCANTE, P. B. Frutas comestíveis na Amazônia. 7. edição. Belém: Museu Paraense Emilio Goeldi, 2010
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Adendo importante: esqueci de mencionar que a chef Roberta Sudbrack dedicou 2013 para explorar todas as possibilidades da fruta-pão. Todo ano ela elege um ingrediente para estudar à exaustão. O resultado com a fruta-pão foram as versões cristalizada, caramelada e até fermentada – com esta última, Sudbrack criou bolo de chocolate especial para a edição de aniversário de 22 anos da revista Gula. Ela ainda não divulgou qual será o ingrediente de 2014. Alguém faz alguma aposta?
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adoro acai com farinha grossa, melhor ainda com file de peixe frito.
É bom demais, né, Maria Paula? Concordo contigo!
Um abraço,
Rachel
Ra
A alimentação é isso, é antropologia, história , poesia, e vc sabe escrever assim.
Parabéns
Bjos
Sil
Obrigadíssima, querida!
bj, Rachel