Em janeiro deste ano, em um post, eu tracei o meu destino. Sim, pode dar uma conferida lá no texto sobre o Queijo Salitre. Ao final dele, me comprometi a conhecer de perto a produção de queijo da cidade de Serra do Salitre, mais especialmente a produção do Seu Vanderlino dos Reis Moreira e de sua mulher, D. Dina. Dito e feito: apertei a mão dos dois na última cidade visitada na rota traçada pelo Sacola por Minas Gerais para conhecer a produção de queijos de leite cru.
Vanderlino e Dina foram um dos primeiros produtores artesanais de Minas a conquistar a certificação do IMA, que garante a liberação para venda de queijos para qualquer cidade mineira. De 1985, quando começaram a produzir queijos, para cá, as vendas cresceram, ganharam prumo, mas nos últimos tempos não têm conseguido deixar Seu Vanderlino contente. Apesar da valorização da produção artesanal, os compradores não têm gostado muito de pagar os novos preços dos queijos certificados. Com o semblante triste, Seu Vanderlino também sente a dificuldade recorrente de não encontrar funcionários interessados na lida com as vacas – seu rebanho conta cerca de 50 animais. É D. Dina que anima o companheiro a seguir na luta. Com risada gostosa e presença vivaz, ela toca a produção de queijos vendida na cidade da Serra do Salitre ou na vizinha Patrocínio.
Mas, enquanto em um lado da cidade a visão é de descrença, o outro se abastece de doses diárias de esperança. João José de Melo é um entusiasta de seu queijo e da história que sua família carrega por trabalhar com o produto há tantos anos. A Fazenda Pavão é centenária e cenário das quatro gerações que já produziram queijo. No terreno bastante acidentado, passeiam as cerca de 70 vacas leiteiras que se alimentam só de pastagem, cana de açúcar e de cilagem. Tudo orgânico e produzido da propriedade.
Foi logo depois que o Sacola visitou a cidade, na última semana de agosto, mais precisamente no dia 29, que o IMA oficializou a Serra do Salitre como a mais nova microrregião produtora de queijo minas artesanal. Antes, ela fazia parte do grupo de 22 cidades que compõe a microrregião do Cerrado, também chamada de Alto Paranaíba.
A conquista da nova denominação de origem se justifica: a região tem propriedades climáticas e de solo muito peculiares. Além da altitude mais elevada, o local tem alta concentração de nitrato de potássio, o tal salitre, que brota do chão daquelas bandas. Esse mineral, aliás, tem importância histórica para a região, que também o aplica como fertilizante e que já o usou como matéria-prima para a antiga fabricação local de pólvora.
O reconhecimento é um baita incentivo para o João e sua mulher Simone, responsável por coordenar a produção na queijaria. É de lá que saem os produtos de sabor mais suave e de textura mais cremosa, comparado aos queijos das regiões de Araxá e Serra da Canastra. Foi para preservar o sabor delicado do produto e também para acrescentar um toque de inovação que João teve a ideia de cobrir as peças com resina comestível – que ele não conta pra ninguém onde consegue! A resina não interfere no sabor, apenas faz uma camada de protege o queijo. Por ter esta função de embalagem, João recomenda que se retire na hora de comer.
Da viagem toda pelas outras microrregiões produtores, ali foi o único local em que encontrei um interessado em experimentar novas possibilidades para o tradicional queijo mineiro. Além da resina, João também incorpora à massa coalhada de queijo temperos e ervas que geram produtos diferentes. Uma forma de dar um passo a diante na história da família, sem esquecer da tradição, já que a produção ainda é feita da mesma forma que há 200 anos.
As novas inspirações de João e sua fala empolgante de resgate deste produto centenário tem muito a ver com bagagem acumulada nas viagens mundo afora que ele e a família têm feito nos últimos anos. Parceiro do Slow Food, o produtor leva o queijo da Serra do Salitre debaixo do braço para apresentá-lo aos gourmands nacionais e internacionais nos eventos da entidade, reconhecida por apoiar aos pequenos produtores e agricultores familiares.”Antes eu carregava o queijo. Hoje é o queijo que me carrega”, diz.
Não que ainda não enfrente dificuldades, também as mesmas do Vanderlino e de D. Dina, mas dá um alento saber que um pequeno produtor se importe tanto como a história de sua família, de sua região e de seu país. Espero que assim como João outros produtores também se engajem da mesma forma, afinal, o queijo da Serra do Salitre merece ser saboreado por mais gente no país e fora dele.
RECEITA
Pra fazer jus à delícia do queijo da Serra do Salitre, a parceira Larissa Januário, do blog Sem Medida, criou um escondidinho de angu com frango caipira e ora-pro-nobis, gratinado com o queijo da vez. Clica na foto para acessar a receita!
VÍDEO:
Sabe o que é o Pingo? Aperta o play!
Referência:
FERREIRA, Wilson Castro. Fatos e figuras: memórias de Serra do Salitre. Patrocínio, MG: JD Produções; 1994.
Serviço:
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Texto tão gostoso de ler quanto deve ser saborear o escondidinho proposto. Algum dia desses vou fazer! Pena que não terá o mesmo sabor, porque me faltará o legítimo queijo da Serra do Salitre!
Paz e bem,
Parabéns aos primos Sr. João e D. Simone e Sr. Vanderlino e D. Dina! Deus os abençõe em Maria! Tamu junto!
A receita está indo para um link vazio. Não tem como disponibilizar ela no site, em outro site, ou corrigir o link se for o caso?
Abraço,
Tente por aqui, Mateus: http://semmedida.com/receitas/escondidinho-de-angu-com-frango-caipira-ora-pro-nobis-e-queijo-da-serra-salitre/
Abraço, Rachel
Eu gostaria de informações, pois estou querendo vender o produto no ES. Gostaria de saber o melhor lugar para comprar em MG. Moro em Itaperuna RJ. Obrigado
Olá, Adson! Você pode acessar o link aí acima, que acabei de publicar, com os contatos dos produtores de várias regiões mineiras.
Boa sorte!
Abs., Rachel