Mais uma da parceria com a Revista Menu: história da produção da Fazenda Córrego das Pedras, que é uma das maiores produtoras de macadâmia do Brasil.
Confira a íntegra da matéria logo abaixo.
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A noz que desbancou o café
Na década de 1960, a fazenda Córrego das Pedras, de São Sebastião da Grama (SP), apostou na então desconhecida macadâmia; hoje a propriedade é uma das maiores produtoras da noz no País
Rachel Bonino*
“O povo começou a achar que eu estava louco”, lembra, entre risadas, Paulo Sérgio Carvalho Dias, dono da Fazenda Córrego das Pedras, localizada na cidade de São Sebastião da Grama (SP). A reação debochada dos produtores vizinhos e trabalhadores da propriedade surgiu quando, a partir da década de 1960, ele decidiu apostar na noz macadâmia, um produto ainda em estudos iniciais no País e totalmente desconhecido na região, ainda muito arraigada à cafeicultura.
Hoje, aos 80 anos, ele comemora a investida no escuro que garantiu que a família seja um dos maiores produtores de noz macadâmia do País. No total, os 750 hectares de área plantada – com 110 mil árvores – geram produção anual de uma tonelada ao ano, isso na fazenda e em mais outras duas propriedades, localizadas em Botelhos (MG) e em Poços de Caldas (MG).
Diferentemente da onda recente de plantação de oliveiras, que tem sido aposta atual feita por vários produtores da região, a macadâmia não teve a mesma adesão na época em que Paulo se animou com as possibilidades da nova cultura. A desconfiança diante de uma produção tão diferente, que exigiria investimento a longo prazo e estudo do zero sobre adaptações locais de solo e clima desencorajou os vizinhos, que não embarcaram na empreitada. Por isso, a Córrego das Pedras desponta como única propriedade desenhada pelas filas quilométricas de pés de macadâmia, na divisa entre Minas Gerais e São Paulo.
Em 1961, quando Paulo assumiu a fazenda, comprada pelo avô em 1926, o café ainda era a cultura predominante. E ele vinha conseguindo bons resultados: saltou de 236 mil para 550 mil pés plantados. Mas queria diversificar. Foi quando recebeu a visita de técnicos do Instituto Agronômico de Campinas (IAC). Ele recorda quando Carlos Arnaldo Krug, especialista em genética, e um dos diretores da instituição naqueles anos, olhou para o vale de café plantado na propriedade e sugeriu que a macadâmia poderia encontrar ali condições ideais para crescer – boa altitude, pouca chuva e com clima ameno com momento de queda na temperatura, que são desejáveis para despertar a frutificação das nogueiras.
Com as sementes em mãos, começou período de estudo e plantio das árvores que durou mais de 15 anos. Nesse meio tempo viajou para conhecer a produção já consolidada no Havaí (Estados Unidos), Austrália e Costa Rica. Nesses locais compreender as especificidades da planta, como o tempo longo de crescimento: são dois anos para a semente virar muda e ir para o chão, e mais quatro a cinco para começar a produzir. Além de gerar suas próprias mudas, a Fazenda comprou ainda algumas do viveiro da família Dierberger, localizado em Limeira (SP), que também estudava e desenvolvia a planta no país. Na Córrego das Pedras são cultivadas atualmente 28 variedades da planta, entre australianas, havaianas e nacionais.
Inicialmente, os pés de macadâmia foram plantados em consórcio com os de café, assim com no Havaí, local que já foi um dos maiores produtores mundiais da noz, entre as décadas de 1920 e 1990. O manejo da planta também foi repassado aos trabalhadores da Fazenda. Habituados a colher os frutos do café no pé, tiveram de se adaptar à colheita da macadâmia no chão do pomar, já que os frutos só estão maduros quando caem espontaneamente do pé.
Paulo começou a colheita e venda da noz a partir da década de 1990. Ao longo dos anos, as nogueiras foram mudando a paisagem da propriedade, que agora investe unicamente na macadâmia, deixando de lado o café.
Intercalando períodos de altos e baixos, a família comemora a exportação diretamente com a China, iniciada há três anos. É para lá que vão 70% da produção da fazenda; o restante abastece a indústria nacional de alimentos, como a de pães. O país asiático é um dos maiores consumidores da noz, especialmente como aperitivo. Lá, ela é vendida ainda com a casca, que recebe um talho. As embalagens para o consumidor final trazem tipo de “chave” para encaixar no talho e abrir a noz. Lá, elas também são saborizadas com baunilha ou sal.
Agora a fazenda se prepara para nova fase: a inauguração de fábrica em Divinolândia (SP) para o processamento para retirada da casca da macadâmia, o que renderá maior valor agregado ao produto na exportação. “Nossa meta é, em dois ou três anos, processar 50% na nossa produção para o mercado nacional, entre empresas alimentícias e consumidor final”, afirma Luciana Arruda Carvalho Dias, filha de Paulo à frente dos negócios da família.
Variedades da macadâmia plantada no Brasil
De origem australiana, a macadâmia foi levada para o Havaí (Estados Unidos) em 1881, e passou de cultura ornamental a produtiva, a partir da década de 1920. De lá saíram as variedades da planta mais estudadas e testadas no sudoeste brasileiro – região que mais se assemelha ao clima subtropical originam da planta.
Desde a década de 1940, quando iniciou as primeiras pesquisas de domesticação e melhoramento genético de macadâmia no País, até o momento, o IAC já desenvolveu 16 variedades brasileiras da nogueira, geradas a partir de plantas mães e avós de origem havaianas.
No Brasil, as nogueiras desenvolveram copas mais abertas e ficaram mais baixas, diferente das variedades australianas que são mais altas e retas. “Essa característica permite a incidência maior de luz e ajuda na produção dos frutos”, explica Graciela da Rocha Sobierajski, pesquisadora do IAC que estuda o melhoramento genérico da macadâmia no Brasil.
Mercados nacional e internacional da macadâmia
Atualmente o Brasil ocupa a oitava colocação mundial em área plantada com macadâmia, com 5,8 mil hectares, segundo informação divulgada no Congresso Mundial de Nozes e Frutas Secas, realizado neste ano, em Sevilha (Espanha). Encabeçam a produção a África do Sul (21 mil ha), a Austrália (19 mil ha) e o Quênia (17,5 mil ha).
Os cerca de 250 produtores brasileiros estão distribuídos nos estados de São Paulo (38%), Espírito Santo (32%), Minas Gerais (10%), Bahia (10%), Rio de Janeiro (6%), Paraná (2%), Mato Grosso do Sul (1%) e Goiás (1%), segundo dados da Associação Brasileira de Noz Macadâmia. Em 2017, a produção total do país somou 4, 5 mil toneladas, já a expectativa é que 2018 feche com 6,2 mil toneladas.
*Rachel Bonino é jornalista e autora do blog Sacola Brasileira (asacolabrasileira.com.br), que retrata os ingredientes da cultura alimentar nacional.
Revista Menu – Edição dezembro/2018 – janeiro/2019
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