A partir deste mês, o Sacola Brasileira começa uma parceria deliciosa: por seis edições, aparecerá na revista Menu! Sim! Serão seis reportagens inéditas com histórias, curiosidades e muita informação sobre a culinária brasileira. A primeira matéria já está na edição de julho da revista.
Você conhece as sementes crioulas? Além de representarem o sustento de diversos agricultores familiares, elas também garantem a preservação de diversas variedades de plantas, enriquecendo nossa biodiversidade.
Para entender como elas estão inseridas nesse processo produtivo, acesse a reportagem completa aqui mesmo, ó!
Reproduzo abaixo também o texto original.
Obrigada pelo apoio, Revista Menu!
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Sementes da luta
Com as mãos fortes, Seu Antonio Benedito Jorge torce a palha do sabugo e deixa à mostra o milho dourado já seco. Depois passa os dedos pelas trilhas amarelas para liberar as sementes daquele que ele chama de variedade milho amarelinho – ótimo para fazer farinha ou comer verde, explica. Mas não são só sementes que Seu Antonio retira do sabugo, é parte da sua história e da de seus antepassados também. “Esse milho aqui já era plantado pelo meu tataravô e continua na minha família até hoje”, conta o produtor de Eldorados, cidade do interior paulista.
É desse orgulho que muitos pequenos agricultores do país sobrevivem. As sementes crioulas, como a do milho amarelinho, carregam o conhecimento regional sobre plantas que, ao longo dos anos, se adaptaram melhor as condições de clima e solo específicas de diversas regiões do país, e foram selecionadas e armazenadas para poderem gerar mais plantas. Tudo muito empírico, baseado na observação de quem coloca a mão na terra e sabe reconhecer um alimento bom, como a família de seu Antonio e de tantos outros pequenos produtores brasileiros.
Nas comunidades rurais de diversos estados, o uso das crioulas – sementes e mudas – garante a comida no prato do agricultor, o alimento dos animais e também a renda familiar da venda de verduras, legumes e grãos. Tudo sem a necessidade de compra de sementes comerciais, o que dá autonomia, autossuficiência aos produtores. Talvez por isso são homenageadas com nomes diversos Brasil afora. São sementes da paixão, na Paraíba; sementes da gente, em Minas Gerais; da resistência, em Alagoas e em Goiás; da fartura, no Piauí; da liberdade, em Sergipe; da vida, no Ceará. “Esses nomes levantam a bandeira de luta que os agricultores defendam por investirem nas sementes crioulas e técnicas agroecológicas num cenário de pressão do uso de sementes comerciais e de agrotóxicos”, explica Emanoel Dias da Silva, agrônomo líder do núcleo de sementes da Ong AS-PTA – Agricultura Familiar e Agroecologia, que trabalha no apoio ao agricultor do semiárido nordestino.
Tecnicamente, as crioulas são diferentes das sementes comerciais porque não passaram por qualquer tratamento químico (como fungicidas, por exemplo), ou modificação genética em laboratório (como as híbridas ou as transgênicas). Carregam, sim, uma estrutura molecular única, resultado de anos de adaptação. Aliadas a uma produção orgânica, sem complementação de aditivos, as crioulas garantem também a preservação das biodiversidades regionais.
Já ouviu falar, por exemplo, dos feijões fundo-de-balde, rabo-de-tatu ou pontinha? E dos milhos adelaide, cunha, grande safra, jaboatão branco, ligeirinho ou aracaju? Todas essas plantas são variedades crioulas conhecidas apenas em algumas cidades ou comunidades. ”São sementes que foram sendo selecionadas pelos agricultores porque eram mais produtivas, ou porque geravam um alimento de gosto bom, ou se adaptaram melhor à estiagem”, explica Amaury Santos, agrônomo pesquisador da Embrapa Tabuleiros Costeiros, de Sergipe.
Os anos de adaptação garantiram a existência de sementes crioulas, mas diversos outros fatores também foram e são ainda responsáveis pelo seu risco de extinção. Condições climáticas desfavoráveis, a oferta de sementes comerciais, a pressão do mercado pelo consumo de poucas variedades ou mesmo o esquecimento de saberes de plantio tradicionais colocaram as crioulas contra a parede. O trabalho de resgate e de valorização da escolha pelas crioulas tem sido alvo de agricultores e pesquisadores.
Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Remígio (PB), Euzébio Cavalcanti fez das sementes crioulas a sua luta diária. Na busca por alternativas para apoiar os produtores de cidade, localizada no Polo da Borborema, e castigada pela estiagem e dificuldades de produção, participou da iniciativa de localizar e reunir sementes locais, na década de 1990. “Pensei que a tradição de estocar sementes estava perdida. Mas qual a nossa surpresa ao saber que alguns produtores locais ainda plantavam, selecionavam, e escondiam a sua semente, com medo da má avaliação dos técnicos do governo”, conta.
Ele se refere às cotas de sementes fornecidas por estados e União para apoiar as produções locais. “Fato é que a semente do governo vem de outros estados, e não está adaptada à nossa região como as crioulas”, explica. Em testes com algumas variedades de milho, Amaury Santos, da Embrapa Tabuleiros, constatou a produtividade superior das sementes nativas comparadas à fornecida pelo governo. Neste ano, ele analisará sementes de feijão caupi. “Hoje os agricultores têm orgulho das próprias sementes crioulas. É a semente da paixão deles”, diz Cavalcanti.
Essa alegria é compartilhada, seja em feiras de trocas de sementes crioulas – que acontecem mensalmente em diversos estados –, seja nos bancos de estocagem coletiva de sementes. Nestes últimos, os produtores armazenam as que poderão ser usadas nas próximas safras por ele, ou por um vizinho. “Em geral, o agricultor que pegou uma quantia de sementes numa safra devolve a mesma quantia e um pouco mais ao banco na safra seguinte, para garantir o estoque sempre cheio”, conta Cavalcanti. Na Paraíba, são mais de 220 bancos comunitários na ativa. Esses estoques são cuidados por “guardiões”, ou seja, agricultores que detêm o saber de determinada variedade e que, por isso, são responsáveis por garantir que o banco sempre tenha reservas daquela semente que ele tem o hábito de cultivar.
Reconhecimento
Em 2003, as crioulas foram incluídas na Lei de Sementes (n. 10.711). A partir daí passaram a ser reconhecidas também por programas federais e estaduais de financiamento agrícola para apoio à produção de pequenos agricultores. No começo de 2015, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), anunciou investimento de R$ 21 milhões para a construção de bancos de sementes crioulas. Outras tantas iniciativas não governamentais também seguem apoiando os produtores. “De uns 10 anos para cá, os governos passaram a entender a semente crioula como estratégia importante para apoiar a agricultura familiar. Mas ainda há um trabalho longo pela frente”, afirma Emanoel, da AS-PTA.
Enquanto se propagarem nos campos de norte a sul, as crioulas garantem a subsistência da agricultura familiar e também deixam o nosso prato mais variado e colorido.
Revista Menu – Edição julho/2015
Oi. Boa noite.
Estou com uma área de 70×40 para plantio. Vim através desta solicitar doação de milho para cozinhar criolo. Hj em dia não temos mais nenhuma semente criola que tínhamos.
Moramos na rua professor Marcolino, 625. Pq Furquim, Presidente prudente – são Paulo. Cep 19030-420.
Peço essa ajuda, pois estamos começando do zero nossa vida de trabalho rural, por enquanto vendemos apenas frutas. Estamos iniciando a roça a horta.
Trabalhei muito tempo na cidade. Agora que meus pais iam vender a terra para se manter. Pedi para tentar administrar por um tempo para dar lucro a eles. Para eles fazerem suas necessidades, pois já estão de idade e não temos economias em banco e nada.
Grato.
Alessandro de Assis